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«O nosso objetivo é abrir as portas»



"Promover a indústria do vestuário além-fronteiras é o principal motor da gala promovida pelo CENIT e pela ANIVEC/APIV no âmbito da iniciativa MODAPORTUGAL , garante Luís Figueiredo, presidente do CENIT, sobre o evento que junta os Prémios de Excelência Empresarial e o Fashion Design Competition."



O evento tem uma ampla divulgação internacional, reforçando a imagem da indústria portuguesa ao nível do know-how, qualidade e também, e cada vez mais, sustentabilidade. Um esforço que tem trazido frutos, não só, por um lado, a mostrar os bons exemplos no mundo empresarial, mas sobretudo, sublinha Luís Figueiredo, a criar ligações com as escolas e os designers que vão dar cartas na moda no futuro, posicionando Portugal como uma referência cada vez mais incontornável na produção de moda.

Como é que surge o Fashion Design Competition?

O Fashion Design Competition é uma iniciativa que começou no início de 2000, numa parceria com a AICEP, cujo objetivo era divulgar a indústria portuguesa e todo o know-how que a indústria tem. A partir de 2017, passámos a fazer o concurso anualmente – antes era um bocadinho intermitente. Este concurso baseia-se numa relação com as principais e melhores escolas de moda da Europa. Ou seja, é quase um intercâmbio entre o que melhor se faz na Europa, neste momento, em termos de designers, com os melhores alunos, e a indústria portuguesa. Ou seja, fomos buscar os melhores para virem conhecer, através de visitas a empresas, a nossa realidade e aproveitamos, algo que eles também têm todo o interesse, para mostrar tudo aquilo que estamos a fazer em diversas áreas. Basicamente, o mais importante deste projeto é fazer esta ligação entre as melhores escolas da Europa e os melhores jovens designers e a indústria portuguesa. Estes designers vão ser, futuramente, ou designers em nome próprio ou vão trabalhar para marcas. Quando eles fizerem isso, vão sempre lembrar-se do que existe em Portugal, da qualidade da indústria portuguesa e, portanto, vamos ter essa vantagem de eles saberem com o que podem contar. Além disso, as escolas têm muita necessidade, também, de terem uma proximidade muito grande à indústria. Questões que se põem muitas vezes: o que podem fazer? Que materiais podem utilizar? Em termos industriais, são coisas em que podemos ajudar. Portanto, esta ligação é realmente o leitmotif deste concurso.

De que forma é feita a seleção destas escolas?

Temos um rigoroso processo de análise para isto. Por exemplo, este ano, vieram destes seis países europeus. Mas já têm vindo outras escolas de outros países. São sempre escolas de referência. Já começamos a ser procurados pelas escolas de moda, eles próprios já querem vir a Portugal. Isto é o reflexo do sucesso do trabalho que está a ser feito. Houve uma fase inicial em que éramos nós que procurávamos trazê-los, agora são eles que querem vir, inclusivamente com grupos mais alargados. Obviamente que nós, o CENIT e a ANIVEC, somos os facilitadores neste processo e nesta ligação. O trabalho é das empresas.

Desfile Fashion Design Competition [©ModaPortugal-Louie Thain]

No caso de Portugal, normalmente estão representadas três escolas. Porquê?


Estamos em Portugal e defendemos a nossa indústria e os nossos designers, obviamente. Temos sempre, também, de apoiar as escolas de moda portuguesas. No fundo, as escolas internacionais de moda são uma ajuda às empresas e o facto de promovermos as escolas de moda portuguesas ajuda os designers e o design de moda português.

O vencedor do concurso de 2021 foi o português Tiago Bessa, que é atualmente finalista no Festival de Hyères. Isso valida também, de alguma forma, este concurso?

É verdade, mas há mais. Por exemplo, o vencedor do ModaPortugal Fashion Design Competition de 2022, Norman Mabire-Larguier, é também finalista do Festival de Hyères deste ano. E a vencedora da edição de 2022 do Festival de Hyères, Jenny Hytonen, participou no concurso ModaPortugal em 2021. Portanto, isto demonstra que realmente estamos mesmo a lidar com os melhores dos melhores. Obviamente que esperamos continuar a ter este sucesso e, sobretudo, aquilo que mais nos motiva é realmente esta ligação, que já referi, das empresas às escolas de moda e sabermos que estes designers no futuro vão ter alguma ligação com Portugal, porque conheceram as empresas.

As empresas portuguesas estão mais abertas agora a estas iniciativas?

Não eram só as empresas portuguesas que eram fechadas. Todas as empresas tinham um pouco essa mentalidade. Mas a situação tem vindo a evoluir até porque, hoje em dia, com a facilidade de comunicação que existe, com a internet, com tanta fonte de informação, esse conceito de guardar segredo ou das empresas não se quererem abrir muito vai-se diluindo. Portanto, as empresas estão muito mais abertas e também há novas gerações nas empresas e estas evoluções geracionais acabam por trazer também essas vantagens, uma maneira nova de ver o mundo dos negócios. No caso desta iniciativa, juntamente com as escolas vem a imprensa internacional. No fundo, as escolas estão centradas no seu trabalho, a divulgação é feita por estes órgãos de comunicação, não só jornalistas, mas também influencers, bloggers, etc. que depois fazem toda a comunicação do evento e daquilo que viram, porque também acompanham as visitas às fábricas. É muito importante esta parte da comunicação. Tem havido da parte do CENIT e da ANIVEC a preocupação que a marca ModaPortugal seja uma referência de excelência. Tem sido feito um trabalho de divulgação nesse sentido, não pelo nosso interesse próprio, mas sempre no interesse das empresas.


Passaram já mais de 20 anos desde que este concurso europeu de jovens designers deu os primeiros passos. O propósito de promover a indústria e ligar as empresas aos designers e escolas internacionais já deu frutos?

O nosso objetivo é abrir as portas. O trabalho depois é das empresas. Sabemos que há algumas empresas que têm mantido contacto com estas escolas. Não consigo dizer resultados, até porque as empresas também normalmente não os publicitam de uma forma muito clara, mas sabemos que há algumas empresas que têm ficado com uma ligação com estas escolas de moda. Dou um exemplo: um designer quando está a tentar desenvolver um modelo ou uma coleção, normalmente faz uma peça, tem de escolher pequenas quantidades de materiais para isso. As empresas, muitas vezes, estão disponíveis para ajudar e colaborar nisso. Portanto, as empresas fazem essa ponte com os designers. Penso que tem sido nesse aspeto a colaboração das empresas, que é um embrião que depois se vai desenvolver. Conheço alguns casos em que isso já aconteceu, de empresas que já produziram coisas específicas para esses designers.


Desfile Fashion Design Competition [©ModaPortugal-Louie Thain]


No caso dos Prémios de Excelência Empresarial, tem havido algumas mudanças nas categorias desde que começou em 2017. Porque é que têm surgido essas alterações? Temos duas perspetivas nos prémios. Uma é puramente matemática. Quem é que exportou mais? Quem é que aumentou mais o volume de negócios? Isso são dados muito objetivos. Depois, temos algumas categorias de questões que estão na ordem do dia, como por exemplo, a sustentabilidade, a indústria 4.0 e a economia digital que são, digamos, áreas de inovação e foram escolhidas por isso. Temos um grupo muito alargado de empresas portuguesas que, hoje em dia, estão no pelotão da frente completamente a nível mundial em áreas como a indústria 4.0 e, sobretudo, a sustentabilidade. Penso que Portugal pode, dentro de muito pouco tempo, ser a referência nestas áreas. Daí, tentarmos puxar um bocadinho por estes temas.

Acredita, então, que a atribuição de prémios como estes podem contribuir para uma evolução da indústria do vestuário?

Obviamente que sim, até porque premiamos os melhores nessas áreas, que depois passam a ser uma referência para todos os outros. Sempre foi assim na nossa indústria, há sempre um pelotão que vai à frente e os outros depois vão acompanhando e vão evoluindo. Mas, sobretudo, estes prémios servem para, aproveitando este evento, divulgar as mais-valias que as empresas vão tendo nestas áreas. Aproveitando a comunicação toda que se gera à volta deste evento internacional, também promovemos as empresas. Aliás, o nosso papel é exatamente esse, promover as empresas e a indústria portuguesa.

Seis entregas de prémios depois, o balanço é positivo?

Muito positivo. Aliás, as próprias empresas têm reconhecido isso. Esta gala é uma reunião da família do sector, chamemos-lhe assim, porque todos os anos fazemos um evento em que trazemos o máximo possível de empresas, de pessoas envolvidas em várias áreas, temos também conferências que, embora sendo uma coisa perfeitamente lateral ao evento, são muito interessantes, porque trazemos especialistas internacionais. Neste último evento, por acaso, isso não foi feito, mas normalmente é feita uma conferência que trata de temas extremamente interessantes e por pessoas altamente qualificadas. Ainda na penúltima edição, estiveram cá professores de uma escola dos EUA a dar uma verdadeira aula sobre o futuro do negócio da indústria têxtil no mercado norte-americano. Foi extremamente interessante e, portanto, também esta família que se junta à volta deste evento tem-nos passado o feedback de imensa satisfação.


Kids ModaPortugal


Que outras iniciativas integram a estratégia ModaPortugal e como se alinham com a evolução da indústria portuguesa de vestuário?

Portugal tem necessidade de entrar na área de luxo, ou seja, empresas que trabalhem para as marcas de luxo. Ainda não temos uma presença muito significativa nessa área, até porque as empresas que existem são dessas próprias marcas, como o caso da Louis Vuitton, que tem a sua própria fábrica cá – temos casos pontuais, não temos é solidamente ainda atingido esse patamar do segmento de luxo.

A ModaPortugal tem estado a fazer um esforço e a puxar pelas empresas para ver se conseguimos posicionar-nos também como uma referência, não só nesse, como também com o Kids ModaPortugal, que é um grupo de trabalho que eu tenho acompanhado mais de perto e que está a fazer um excelente trabalho na promoção da moda infantil, com eventos fora de Portugal que têm resultado muito bem. Penso que é uma vitória que conseguimos. Em relativamente pouco tempo, hoje temos já um site internacional Kids ModaPortugal, já temos parceiros internacionais, portanto, também é uma área bem-sucedida. O CENIT, hoje em dia, já tem igualmente cerca de 100 empresas a fazer feiras connosco, que é uma forma de darmos uma ajuda na internacionalização das empresas. Temos feito eventos de enorme impacto com a Fábrica do Futuro, que é uma fábrica virtual que tem uma parte de demonstração física, de produção, mas tem também toda a tecnologia associada à indústria, através de imagens virtuais, e esses eventos que temos feito internacionalmente – fizemos em Paris, durante a semana de moda, e mais recentemente em Dublin – são uma forma de quase andar a viajar com a Fábrica do Futuro pelo mundo. No passado fizemos também a Zona Industrial, em que levámos todas aquelas empresas de referência em Portugal a serem os parceiros desses eventos. Obviamente que isto são processos complexos, não é fácil, envolvem alguns custos, portanto tem de ser feito de uma forma muito criteriosa e apontando para objetivos muito claros. E tentamos sempre que as empresas estejam envolvidas nestes projetos.

Como vê a evolução da indústria?

Somos uma indústria considerada tradicional – eu não lhe chamo tradicional, acho que é uma indústria com tradição, o que é um bocadinho diferente – e, apesar de sermos um país relativamente pequeno, temos um know-how e uma resiliência enorme nesta indústria. Eu sou otimista quanto ao futuro. Demonstrámos, ao longo dos anos, que as nossas indústrias têxtil e do vestuário são indústrias com futuro. Trabalhadas de uma forma diferente, com muita tecnologia associada. Tenho sempre a sensação, quando falo fora dos círculos, que as pessoas acham que a indústria têxtil e do vestuário é pouco tecnológica e estão redondamente enganadas. A indústria têxtil, hoje em dia, é altamente tecnológica, cada vez mais, e a prova disso é que, embora se tenham perdido alguns postos de trabalho pelo caminho, o ritmo das exportações portuguesas de têxtil e de vestuário tem continuado a subir. Isto demonstra a resiliência que temos. Somos uma indústria com futuro.


Fábrica do Futuro [©ModaPortugal-Pretonubranco]


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