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Indústria do vestuário pede prudência no salário mínimo




Empresas "estão asfixiadas" e não suportam mais subida de custos. ANIVEC alerta que é preciso ter consciência "até onde se pode ir" e que "sem empresas não há emprego".


O governo quer aumentar o salário mínimo nacional para 759 euros, já em 2023, mas os empresários alertam para o efeito da medida na saúde das organizações. "Depois de dois anos de pandemia, com uma crise energética e a inflação a disparar, as empresas estão asfixiadas. E se ainda sobrevivem é porque os nossos empresários são muito resilientes", diz o presidente da Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção (ANIVEC), alertando que "sem empresas não há emprego", pelo que é preciso haver "consciência de até onde se pode ir".

César Araújo falava ao Dinheiro Vivo à margem da Moda Portugal Life Cycles, uma "mostra da excelência da têxtil e da confeção de vestuário portuguesas junto dos opinion makers que povoam Paris durante a Semana de Moda", que esta quinta-feira à noite decorreu no icónico Palais de Tokyo. O objetivo, naturalmente, é atrair novos clientes e de novas marcas através da demonstração do bem saber-fazer dos milhares de empresas que operam na indústria da moda em Portugal.

Questionado sobre sinais de retração do mercado, o presidente da ANIVEC diz que ainda não existem, na medida em que, após dois anos de pandemia, "as pessoas estão desejosas de comprar coisas novas e regressar à normalidade". A crise energética, a inflação e os efeitos da guerra na Ucrânia são preocupações, mas, para já, "as pessoas querem mesmo é esquecer as desgraças".

Claro que o disparar da inflação traz consigo menor poder de compra das famílias, mas para César Araújo a solução está na redução dos impostos. "O que está a influenciar a inflação são, sobretudo, os combustíveis e a energia, e é mais fácil o governo reduzir os impostos sobre estes produtos do que agir sobre os salários. É preciso que haja consciência que qualquer decisão que seja tomada tem de ter em conta a realidade do tecido empresarial português", defende o líder associativo, sublinhando que "é muito fácil prometer mundos e fundos, mas é preciso ter em conta o efeito sobre a capacidade competitiva da indústria portuguesa, sobretudo quando se sabe que 85% dos artigos de vestuário vendidos na Europa são de origem extracomunitária".

Nos primeiros sete meses do ano, a indústria de confeção e vestuário exportou bens no valor de 2132 milhões de euros, mais 16,6% do que no período homólogo. Espanha, França, Alemanha, Itália e Reino Unido são os principais destinos da moda portuguesa, e que registam crescimentos que vão dos 2,9%, no mercado espanhol, aos 26,7% de França. As vendas para a Alemanha cresceram 23,2%, para Itália aumentaram 25,8% e para o Reino Unido 4,5%.

Para o Orçamento do Estado para 2023, o presidente da ANIVEC reclama apoios às empresas com mais de 250 trabalhadores, e que, embora tenham faturações inferiores a 50 milhões de euros, são já consideradas grandes empresas apenas pelo número de trabalhadores. "Portugal tem 1400 entidades consideradas grandes empresas, embora a maior parte nem 50 milhões fature. É preciso criar empresas com músculo, capazes de serem locomotivas da economia portuguesa, e para isso não podemos continuar a discriminar as indústrias intensivas em mão-de-obra", defende.

Os empresários querem ainda que o governo deixe de penalizar o trabalho suplementar em sede de IRS. "Não se pode pedir a um funcionário que esteja disponível para fazer trabalho suplementar se, no fim do mês, esse valor o faz subir no escalão do IRS e acaba a levar menos dinheiro para casa", reclama, considerando que os salários até mil euros deveriam estar isentos de IRS.

A fábrica portuguesa de volta a Paris Três anos depois do primeiro evento, e suspensa durante dois anos por causa da pandemia, a campanha ModaPortugal marcou presença, mais uma vez, em Paris, no decorrer da Semana da Moda. Esta é uma altura em que todos os agentes ligados à moda rumam à cidade-luz e o Centro de Inteligência Têxtil (CENIT), em articulação com a Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confeção (ANIVEC), quis aproveitar para divulgar o que de melhor se faz neste domínio em Portugal.

Em vez de desfiles, CENIT e ANIVEC levaram as fábricas portuguesas a Paris, através de uma instalação imersiva holográfica, mas também da presença de alunos e professores da Modatex, que ao vivo mostraram como muitas unidades estão já a dar uma segunda vida às roupas, numa lógica de circularidade que muitas marcas europeias começam a pedir. Os desenvolvimentos tecnológicos na modelagem - que permitem o desenvolvimento de tecidos de forma digital, vestidos em avatares, de modo a que as marcas possam ir afinando o produto final que pretendem sem que este seja efetivamente produzido, evitando desperdícios - era outra das áreas de exposição disponíveis, bem como o recurso ao 3D e ao virtual para assegurar a gestão fabril à distância, mostrando que as fábricas portuguesas são "altamente eficientes e totalmente transparentes".

"Portugal hoje é líder na sustentabilidade. Assumimos que a circularidade e a sustentabilidade são as prioridades da nossa indústria e o que vemos aqui é isso mesmo. (...) Aliás, Portugal, neste momento, está a ser assediado, no bom sentido, com toda a gente a querer produzir nas nossas fábricas, o que mostra que estamos na vanguarda. Pena é que não tenhamos mais capacidade instalada para dar resposta", refere, por seu turno, o presidente do CENIT.

Luís Hall de Figueiredo reconhece que, com a rutura das cadeias de aprovisionamento e distribuição da Ásia, associada ao disparar dos custos dos transportes, a proximidade tornou-se um fator determinante. "Os clientes hoje procuram proximidade, por razões de custos logísticas, mas também por questões de sustentabilidade, porque a pegada ecológica é algo que hoje preocupa clientes e empresas", diz.

O responsável reconhece que "ainda não se está a notar retração dos mercados, e as empresas têm todas muito trabalho", mas assume que teme por 2023. "Há uma tempestade perfeita a aproximar-se, inflação e estagnação são realmente fatores que nos deixam preocupados. Embora não os tenhamos sentido até agora, mas nada garante que não possamos vir a ter problemas nos próximos meses", frisa.



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